Exclusivo: Entrevista com o vice-prefeito Gilvan Tomazini

Dr. Gilvan o senhor teve participação ativa na campanha que elegeu a chapa do PSDB nas ultimas eleições. O seu apoio foi decisivo para a vitória?
Gilvan - Decisivo eu não digo. A vitória veio em função de uma série de situações no decorrer da campanha. Agora, por ser filho de Alexânia, e ter um serviço prestado a nossa comunidade na área médica a mais de 20 anos, acredito que a minha participação na chapa foi muito importante para que a Cida chegasse a vitória.

No primeiro ano de mandato o senhor teve uma participação importante no governo, principalmente na área de saúde, quando, de repente, surgiu a noticia do rompimento com a prefeita. A que se deve esse rompimento?

Gilvan - Um dos motivos que me levou a aceitar a candidatura de vice-prefeito foi o compromisso da prefeita que eu teria uma atuação ativa na prefeitura e que seria uma peça importante no seu governo. Não queria ser apenas um vice. A minha proposta era de trabalho. De ajudar a prefeita a solucionar os problemas do dia a dia, principalmente na área de saúde. E isto foi dito na campanha. Foi nosso compromisso com o povo. Da minha parte, enquanto fiz parte do governo, cumpri fielmente o meu compromisso com Alexânia. Não só na área de saúde, mas procurei dar minha colaboração em praticamente todas as áreas, para que nos pudéssemos fazer uma boa administração. Isto é o que o povo esperava deste governo.

Então, pelo que o senhor diz, faltou condição de trabalho?
Gilvan - Sim. Eu comecei a perceber isso logo no inicio do governo. Só pra exemplificar, logo após a posse eu fiz um diagnóstico da saúde no município, que era a minha grande preocupação, para que a gente pudesse complementar o que foi iniciado no governo anterior. No inicio, junto com a secretária de saúde e o quadro de servidores, fizemos alguma coisa no sentido de melhorar o atendimento ao público e tenho convicção que avançamos nesta área. Passei para a prefeita o quadro atual e o que era preciso fazer para dar uma saúde dígna ao povo de Alexânia. Infelizmente ela não entendeu dessa forma e não fez nenhum investimento nesta área e, aos poucos, eu percebi que meu trabalho estava incomodando a prefeita.

Como assim incomodando?
Gilvan - O trabalho que eu vinha realizando estava agradando a população, mas incomodando algumas pessoas próximas a ela que entendiam que isto seria perigoso politicamente. Poderia representar uma ascensão política minha. Ela também entendeu desta forma e iniciou um processo de desmonte da equipe que me ajudava, inviabilizando nosso trabalho. Foi uma pena, quem perdeu com isso foi a nossa população. Eu estava entusiasmado com este novo desafio na minha vida e a minha vontade de ajudar Alexânia era muito grande.

Quais os pontos positivos que o senhor vê no governo Cida do Gelo?
Gilvan - Olha, sinceramente, não vejo nenhum ponto que pudesse ser considerado positivo. Os compromissos que assumimos em palanque foram esquecidos, falta pulso e comando da prefeita e as decisões de governo estão praticamente nas mãos de outras pessoas. E este não é apenas um sentimento meu. Basta dar uma volta pela cidade e conversar com as pessoas. Faça isso e você verá o que o povo pensa deste governo. Outra coisa, tudo que ela fez nesses 14 meses de governo não foi nada mais do que dar continuidade naquilo que foi iniciado no governo passado.

Pode citar algum exemplo?
Gilvan - Claro e são muitos. As casas populares é um deles. O governo anterior não conseguiu concluir as obras porque a empresa que venceu a licitação não executou o contrato e o município teve que rescindi-lo. Mas o recurso ficou na conta da prefeitura na Caixa Econômica e com um pouco mais de aporte financeiro esta obra ficaria pronta. Demorou um ano para ela reiniciar a obra e sempre alegando falta de dinheiro. O que me intriga é que faltava dinheiro para construir as casas populares tão desejadas pelas famílias cadastradas, mas sobraram 980 mil reais para comprar o Thuthucas. Em minha opinião ela deve essa explicação para as famílias que continuam pagando aluguel ou morando de favores enquanto a obra não é concluída.

Outros exemplos que posso citar é a escola da Serra do Ouro, construída pelo ex-prefeito e inaugurada por ela e as reformas do Ginásio de Esportes e Estádio de Futebol que estavam em andamento e com os recursos para pagamentos garantidos junto a Caixa Economica. De forma que eu não posso avaliar positivamente esse governo.

E os pontos negativos?
Gilvan - Olha, o que considerado mais negativo neste governo é a falta de planejamento, a falta de comando e de pulso para a tomada de decisões. Um governante não pode ficar refém de outras pessoas. Ele tem que chamar pra si a responsabilidade de governar, sob pena de entrar para a história como um governante subalterno. Mas isto é da personalidade da prefeita e, não vejo, sinceramente, algum sinal de que isso possa mudar.

Ao mostrar o seu descontentamento com os rumos que o governo estava tomando o senhor acha que começou a ser perseguido pela prefeita?
Gilvan - Isso aconteceu sim. Mas o que mais me chocou foi quando percebi que todas as pessoas ligadas a mim estavam sendo discriminadas pela prefeita e por umas poucas pessoas próximas a ela. Lá você não pode discordar, tem que rezar na cartilha deles ou passa a ser descriminado. Veja o exemplo da saúde que citei anteriormente, bastou cobrar mais investimento nesta importante área do governo e meu trabalho começou a ser boicotado.

Comenta-se que os funcionários indicados pelo senhor foram todos exonerados, isso procede?
Gilvan - Quero deixar claro que eu não indiquei ninguém para trabalhar na prefeitura. Todas as pessoas ligadas a mim que prestavam serviço para o município foram convidados porque participaram efetivamente da campanha e foram, de certa forma, responsáveis pela nossa vitória. Portanto, nada mais justo, do que suas participações no governo e, realmente, a partir do momento que comecei a discordar de alguns pontos da administração, começaram a persegui-las, chegando a exonerá-las.

E a secretária de saúde, pediu exoneração em solidariedade ao que estava acontecendo com o senhor?
Gilvan - A Lucila é um exemplo de competência, honestidade, dedicação e dignidade. Ela estava fazendo um excelente trabalho na secretaria de saúde e percebendo o que estava acontecendo, pediu a sua exoneração. Por outro lado, ela me confidenciou que estava muito preocupada com o que estava acontecendo na prefeitura, sendo praticamente induzida a assinar alguns documentos que poderiam comprometê-la no futuro e ela é uma pessoa muito correta. Foi uma pena. Ela, de fato, é muito competente e o município perdeu com a sua saída.

A população tem cobrado da prefeita o inicio das obras prometidas na campanha e que ainda não foram iniciadas. A que o senhor atribui essa inércia por parte da prefeitura?
Gilvan - Realmente isso me deixa indignado. Após 14 meses de governo o que se vê é simplesmente a continuidade de projetos iniciados pelo governo anterior e mesmo assim com muito atraso. A prefeita reclama muito da queda de receita e alega, sempre, que isto estaria inviabilizado o inicio de novas obras. Como não via esta reclamação de outros prefeitos resolvi fazer um levantamento junto ao TCM (Tribunal de Contas de Goiás) para comparar os números atuais com os do governo passado. Fiquei assustado com o que vi. Primeiro não houve queda de receita, a prefeita tem faltado com a verdade. Em 2008 o município arrecadou pouco mais de 25 milhões de reais, contra quase 30 milhões arrecadados em 2009. Houve um aumento de receita na ordem de 18%, ou aproximadamente 4,5 milhões de reais.

Então como explicar a falta de investimentos na área de infra-estrutura do município?
Gilvan - Agradeço por essa pergunta. Você está me dando a oportunidade de mostrar para a população como vem sendo empregado os impostos que nosso povo paga com seu suor e mais um dos motivos que me levou a romper com a prefeita. Para isso é preciso voltar ao passado e comparar alguns gastos deste governo com o do ex-prefeito Ronaldo, para que os leitores possam tirar as suas conclusões. No governo passado o município gastou com combustível, durante quatro anos, uma média anual de 850 mil reais. Em 2009 a prefeita Cida gastou simplesmente o dobro disso, ou seja, aproximadamente 1.7 milhões de reais. E olha que eu não me recordo de nenhum veiculo parado na garagem da prefeitura por falta de combustível no governo anterior. Outro gasto absurdo, e gostaria realmente de passar para a população, é o gasto com assessoria jurídica. A prefeitura banca hoje seis advogados que consomem quase 500 mil reais por ano, contra pouco mais de 180 mil no governo anterior. Também é impressionante o gasto com aluguel de veículos. Supera em quase 300% o gasto do governo anterior. Mas o que mais me deixou abalado e que realmente me deixou com medo dessa administração foi a compra do Thuthucas por 980 mil reais e que até o momento não serviu de nada para a população. Questionei a prefeita na época, disse pra ela que este imóvel não serviria de nada para a população, mas, infelizmente, ela preferiu ouvir outras pessoas e o adquiriu. Isso tudo leva a conclusão de que realmente não dá pra fazer nenhuma nova obra. A receita do município não suporta tanta despesa e a administração fica comprometida.

O Dr. Valdivino é considerado a pessoa de confiança da prefeita. O senhor acha que a opinião dele foi decisiva para o rompimento?
Gilvan - Durante a campanha a candidata Cida garantiu ao seu grupo político que o Valdivino não exerceria nenhuma influencia na sua administração e não participaria de seu futuro governo. Até porque nós éramos cobrados constantemente pela população. Não sei te explicar porque, mas o fato é que a população o vê com bastante reserva. E isto não aconteceu. Todos sabem que ele hoje é quem dá as cartas na prefeitura. A prefeita não toma nenhuma decisão sem antes ouvi-lo. Quando coloquei pra ela o meu ponto de vista, ela saiu em defesa do Valdivino. A partir daí eu percebi, definitivamente, que este governo entrará para a historia como um dos piores que Alexania já viu. Este foi o principal motivo do meu rompimento com a prefeita. Não concordo que uma pessoa que não foi eleita pelo povo tenha tanto poder de decisão numa prefeitura como ele tem.

Quando o senhor aceitou o convite para participar da chapa do PSDB o que o senhor esperava da Cida do Gelo como prefeita?
Gilvan - Olha, esta não foi uma decisão fácil para mim. Pensei muito antes de aceitar o convite para ser candidato a vice-prefeito, mas ela me convenceu com seus argumentos, com suas propostas para nossa cidade e, principalmente, pelo compromisso de eleger a saúde como prioridade no seu futuro governo. Então eu pensei, ora, há mais de vinte anos eu tenho procurado ajudar as pessoas de Alexânia na área de saúde, e acreditei ser esta uma boa oportunidade para que eu pudesse intensificar meu trabalho e deixar a saúde do município à altura de nossa população. Além do compromisso de que eu teria toda liberdade para exercer o meu trabalho. Infelizmente não foi possível.

O senhor se sente enganado pela prefeita?
Gilvan - Sim, enganado e usado por ela para ajudá-la a ganhar as eleições. Só lamento que, junto comigo, mais de sete mil eleitores também foram enganados.

Tudo que aconteceu deixou o senhor frustrado?
Gilvan - Claro. Eu tinha um sonho de ajudar Alexânia e fui impedido. Hoje me sinto, acima de tudo, envergonhado por ter ajudado a eleger esse governo que aí está.

O governo anterior deixou o projeto e os recursos financeiros para o asfalto da Vila Geraldo Jaime. O senhor sabe os motivos para o atraso dessa obra?
Gilvan - Quando assumimos nosso mandato esse projeto estava pronto pra ser iniciado, estava previsto para iniciar já em janeiro de 2009. Tudo estava praticamente pronto. O recurso financeiro já se encontrava na Caixa Economica e a prefeita, não sei te explicar o motivo, por orientação do Dr. Valdivino, cancelou o contrato com a empresa vencedora da licitação, com o argumento de que iriam incluir outros projetos na nova licitação. A segunda licitação também foi cancelada porque, ao que me parece, licitaram sem ter os recursos para executar as obras. Achei muito estranho isso. Porque cancelar uma licitação pronta para incluir novos projetos em outra é estranho. O mais simples seria fazer uma nova licitação para atender os novos projetos e iniciar as obras já com contrato assinado com a empresa que iria realizar o serviço. Mas, enfim, não sei mais detalhes além destes que coloquei. Só sei que a Vila Geraldo Jaime foi a grande prejudicada nesta história.

As pessoas comentam que o senhor tem informações, inclusive documentos, que comprovam irregularidades no governo. O senhor pretende denuncia-las aos órgãos competentes?
Gilvan - Não posso afirmar que existem irregularidades no governo. Existem, a meu ver, fortes indícios de irregularidades e pretendo sim levar estes fatos ao conhecimento das autoridades competentes.

O senhor poderia citar algum?
Gilvan - Veja bem, eu não gostaria de cometer nenhuma injustiça. Como eu disse, são apenas indícios e como eu posso estar equivocado, prefiro encaminhá-los aos órgãos fiscalizadores para que eles possam exercer o seu papel.

Algumas pessoas ligadas a prefeita, alardeiam por aí que o senhor foi afastado porque queria tirar proveito de alguns contratos firmados pela prefeitura. O que o senhor tem a dizer em sua defesa?

Gilvan - Eu entrei para a vida pública para servir. Tenho uma profissão e graças a Deus sou uma pessoa independente. Todos que convivem comigo conhecem a minha retidão e o meu caráter. Basta o leitor analisar o caráter e a probidade de algumas pessoas que hoje cercam a prefeita para tirar a sua conclusão. Outra coisa, vice-prefeito não faz compras, não assina contrato, não assina cheques, não ordena despesas. Quem faz isso é a prefeita do município. Ela é a gestora dos recursos e dos contratos firmados pela prefeitura. Portanto, ela é a responsável por tudo que acontece no governo.

Como em política tudo é considerado possível, existe a possibilidade de o senhor voltar novamente a fazer parte deste governo?
Gilvan - Isto está totalmente fora de cogitação. Não existe nenhuma possibilidade para que isso aconteça.

O senhor pretende continuar na vida publica?
Gilvan - Pretendo continua cumprindo meu papel de vice-prefeito e continuarei sempre a disposição das pessoas que me procurarem.

Como é seu relacionamento com a Câmara de Vereadores?
Gilvan - Nunca tive nenhum problema com os vereadores. Nem mesmo com os adversários políticos. Sempre os respeitei e tenho certeza que a recíproca é verdadeira.

Na sua visão, qual a importância da instalação da Rosatex em Alexânia?
Gilvan - Considero de extrema importância a chegada da Rosatex. Aliás, acho que este foi um marco no governo do ex-prefeito Ronaldo, que trabalhou muito para a vinda desta empresa para Alexânia. São muitos empregos, mais impostos, mais dinheiro circulando em nosso comércio e depois dela, várias outras empresas virão para cá.

Para finalizar, o senhor gostaria de aproveitar a oportunidade e dirigir algumas palavras aos seus eleitores, já que eles votaram na Cida em razão da sua participação na chapa?
Gilvan - Quero, nesta oportunidade, pedir desculpas aos meus eleitores, amigos e a todos que confiaram em mim. Infelizmente não pude realizar meu trabalho, mas todos que conviveram comigo neste período sabem que dei o melhor de mim por Alexânia. Todos sabem que tenho uma profissão e um trabalho em Brasília. Deixei tudo para realizar o sonho de ajudar a construir uma Alexânia melhor a cada dia. Lamentavelmente a prefeita me impediu de realizar esse sonho.